sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Opinião: Conflitos de Terra em Lavras?

Todo mundo nos conhece do Quilombo Corredor dos Munhos, aqui de Lavras do Sul. Somos descendentes da Vó Chica escrava antiga que originou aquele núcleo. Somos filhos do Tio Abedão, do Ademar, do Vital e de outros tantos negros velhos daquela localidade. Trabalhamos em várias estâncias em vários lugares de Lavras do Sul.

Sempre fomos conhecidos como agricultores que plantam milho, feijão, batata-doce e que fazem as delícias como as cucas da Tia Erô e a marmelada da Tia José. E todo mundo sabe que cada um de nós tem meia dúzia de animais bovinos conforme o costume da região. E quando buscamos o reconhecimento enquanto comunidade quilombola foi pra revalorizar a nossa cultura, a nossa história e pra vencer a dificuldade de inserção nas políticas públicas da agricultura familiar.

Mas no Brasil a mídia só mostra as coisas ruins que acontece e as pessoas ficam com uma imagem equivocada das comunidades quilombolas. Tem gente que acham que nós estamos vivendo em conflito pela terra com as demais propriedades aqui da nossa volta e que os Quilombolas dos Munhos querem mais de mil hectares de terras (boatos de cidade pequena). Quando na verdade temos já há muitos anos consolidada a posse das áreas que estamos e o que pode acontecer é uma regularização documental das mesmas.

Nossos desafios é neste pedaço de terra, gerar renda para as famílias, conseguir uma estrada de qualidade para transportar pessoas, produtos e serviços, ter acesso a uma água de melhor qualidade para consumo humano (que apesar dos vários projetos, ainda não conseguimos concretizar) e construir habitações com melhor salubridade e habitabilidade.

Quanto ao conflito de terra não há, só há um conflito cognitivo na mente de algumas pessoas que não conhecem a sua realidade e vivem a partir do que é mostrado no Jornal Nacional ou no Jornal do Almoço. Temos que pensar a partir do local, valorizando as pessoas que estão ou que querem viver no meio rural, estas independente de serem quilombolas, agricultores ou pecuaristas precisam ser incentivadas e apoiadas, independente de serem muitas ou poucas famílias. Mas o assunto das necessidades diferentes e do número de famílias fica pra outro momento.

Amilton Camargo
Coordenador da Comunidade Quilombola Corredor dos Munhos